Bater no fundo

Via blogue - Lisboa-Tel Aviv

L.V.C., ex-professor da Escola EB2/3 de Fitares.
Agora todos falam da indisciplina nas escolas. Até há algum tempo atrás esse assunto era uma coisa de chatos e de velhos do Restelo, avessos aos amanhãs que cantam, da escola moderna, democrática e progressista, que foi sendo construída em cima da velha escola opressora e salazarenta. Foi preciso acontecerem duas tragédias, para algumas pessoas abrirem os olhos.
Podem abri-los à vontade, mas já não vão a tempo, pois o sistema educativo está todo armadilhado. O problema da indisciplina já é muito antigo e tem vindo a agravar-se nos últimos anos. Como? Com a desautorização sucessiva dos professores e o seu contínuo achincalhamento perante (e pela) opinião pública; com a invasão das escolas por enxurradas de leis líricas e inoperacionais; com a visão lúdica da escola, que incute nos alunos a ideia de que o estudo não é para levar a sério; com a desresponsabilização de alunos e pais, e a correspondente responsabilização inversa dos professores; com o facilitismo, que permite a fuga ao trabalho e ao esforço, sem que com isso haja chumbos ou penalizações; com a psiquiatrização excessiva do ambiente escolar; e com a infantilização das aulas, ditada pelas iluminárias das ciências da educação. Todos estes motivos têm vindo a ser cavados no sistema, ano após ano, governo após governo.
Não será, por isso, com alterações pontuais à lei que o problema diminuirá. A indisciplina só tenderá a desaparecer, quando o sistema educativo se libertar das ideologias políticas e educativas, que o puseram neste estado. Como a sociedade portuguesa maioritariamente as apoia, a escola continuará degradar-se e a ser, cada vez mais, um depósito de alunos mal comportados.

4 comentários:

Anónimo disse...

João António, nem imaginas o quanto concordo contigo... só me resta dizer com o coração apertado, está tudo dito. Este País leva-me às lágrimas. Não sei qual vai ser o futuro, mas sem essa base, sem esse pilar fundamental que é a Educação... iremos directos ao abismo e já na nossa geração. Eu preferia o ensino Salazarento, com palmatória e tudo... Que hei-de dizer mais?!
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas entre uma e outra, prefiro os pés em solo firme.
Um beijo.

Pronúncia disse...

Nem mais.

A escola é apenas um reflexo da sociedade em que hoje vivemos, onde se governa para a estatística, onde se nivela por baixo, onde a mediocridade impera... os resultados começam a aparecer!

João António disse...

Fada do Bosque
Fada o texto é do Levy, e eu também concordo em tudo o que ele escreveu. Os teus sentimentos em relação a esta miséria que se transformou a educação em Portugal, são exactamente os meus.
Um beijo

João António disse...

Pronúncia
Nem mais, os resultados da desagregação do ensino em Portugal estão a aparecer a olhos vistos!
BFS