Hábitos de poupança

Hábitos de poupança na Holanda, nada que interesse a Portugal, país rico… 
A leitura do texto dispensa comentários...

Helena Rico, 42 anos, Groningen, Holanda

A propósito do desafio sobre os novos hábitos de poupança na abertura do ano lectivo, resolvi partilhar a minha experiência uma vez que vivo no norte da Holanda, onde tudo se passa de modo completamente diferente.Em primeiro lugar, os livros são gratuitos. São entregues a cada aluno no início do ano lectivo, com um autocolante que atesta o estado do livro. Pode ser novo ou já ter sido anteriormente usado por outros alunos. No final do ano, os livros são devolvidos à escola e novamente avaliados quanto ao seu estado. Se por qualquer razão foram entregues em bom estado e devolvidos já muito mal tratados, o aluno poderá ter de pagá-los, no todo ou em parte.Todos os anos, os cadernos que não foram terminados voltam a ser usados até ao fim. O contrário é, inclusivamente, muito mal visto. Os alunos são estimulados a reutilizar os materiais. Nas disciplinas tecnológicas e de artes, são fornecidos livros para desenho, de capa dura, que deverão ser usados ao longo de todo o ciclo (cinco anos).Obviamente que as lojas estão, a partir de Julho/Agosto, inundadas de artigos apelativos mas nas escolas a política é a de poupar e aproveitar ao máximo. Se por qualquer razão é necessário algum material mais caro (calculadora, compasso, por exemplo), há um sistema (dinamizado por pais e professores, ou alunos mais velhos) que permite o empréstimo ou a doação, consoante a natureza do produto.Ao longo do ano, os alunos têm de ler obrigatoriamente vários livros. Nenhum é comprado porque a escola empresta ou simplesmente são requisitados numa das bibliotecas da cidade, todas ligadas em rede para facilitar as devoluções, por exemplo. Aliás, todas as crianças vão à biblioteca, é um hábito muito valorizado.A minha filha mais nova começou as suas aulas de ballet. Não nos pediram nada, nenhum fato nem sapatos especiais. Mas como é universalmente sabido, as meninas gostam do ballet porque é cor-de-rosa e porque as roupas também contam. Então, as mães vão passando os fatos e a minha filha recebeu hoje, naturalmente, o seu maillot cor-de-rosa com tutu, e uns sapatinhos, tudo já usado. Quando já não servir, é devolvido. E não estamos a falar de famílias carenciadas, pelo contrário. É assim há muito tempo.O meu filho mais velho começará a ter, na próxima semana, aulas de guitarra. Se a coisa for levada mesmo a sério, poderemos alugar uma guitarra ou facilmente comprar uma em segunda mão.Este sistema faz toda a diferença porque, desde que vivo na Holanda, terminou o pesadelo do início do ano. Tudo se passa com maior tranquilidade, não há a febre do "regresso às aulas do Continente" e os miúdos e os pais são muito menos pressionados. De facto, noto que há uma grande diferença se compararmos o nosso país e a Holanda (ou com outros países do Norte da Europa, onde tudo funciona de forma idêntica). Usar ou comprar o que quer que seja em segunda mão é uma atitude socialmente louvável, pelo que existe mil e umas opções. Não só se aprende desde cedo a poupar e a reutilizar, como a focar as atenções, sobretudo as dos mais pequenos, nas coisas realmente importantes. 
 (Publicado no "PÚBLICO" - 30-09-2011- recebida por email)

3 comentários:

Unknown disse...

Daqui a 20 anos chegamos lá, obrigatoriamente.

Táxi Pluvioso disse...

A Europa faliu, dentro de umas décadas será ultrapassada pela África.

Paulo disse...

A minha historieta - Comprámos casa em 2004. A dita tem uma garagem de 156m2 onde nos anos 90 duas alemãs abriram uma loja de segunda mão. Na morte de um tio da minha mulher e de tia minha, herdamos muitos e variados items pelo que abri também uma loja de 2ªmão. Na impossibilidade de a gerir publiquei anúncios na procura de parceiro/a, entre 2007 e 2009 - oferecia alojamento, alimentação e 33% de eventuais lucros por 15 dias de trabalho. Nestes 2 anos recebi 14 respostas que não deram em nada. Em Fevereiro de 2009 botei anúncio num site estrangeiro e NUMA SEMANA recebi DEZ respostas, todas de cidadãos da UE (UK,Holanda, Bélgica e Polónia). Aceitei uma e no dia 1 de Março tinha à porta um jovem polaco, vindo à boleia da Polónia e que desistiu em Setembro. Na penúltima semana vendeu um euro e 60. Na última um euro e 50.
Além de muitos e variados items também se vendia roupa que as tias de minha mulher, senhoras da classe média alta lisboeta, faziam o favor de fornecer. Tudo em bom estado e de boa qualidade, claro.
Não querendo ser maçudo dou só este exemplo - meu cunhado após ganahr peso ofereceu 2 camisas que deixaram de lhe servir ( em perfeito estado de conservação) e que custaram quatorze contos cada e que tentavamos vender por DOIS euros. Ainda as tenho (pode ser que o filho as queira).
Da história das respostas aos anúncios publicados em Portugal, durante 2 anos também seria muito ilustrativa mas demasiado longa pelo que destaco apenas a da rapariga que após um mês de troca de emails onde publicitava as suas vantagens de gestora comercial, marcou uma visita às instalações para um dado domingo de Agosto (com hora e tudo) e depois não apareceu.
Do espaço fiz um loft/atelier e doei a roupa. É só.

P.S. Loja numa cidade algarvia. Suponho que em Lisboa teria tido melhor sorte. Algarve uma das regiões onde o desempregou mais subiu.